Quando eu
tinha 20 e poucos anos, me diziam que eu sentiria uma “boa” mudança pra pior
depois dos 30. Nunca senti nada diferente, a não ser ter voltado a vida de
solteira, depois de 10 anos casada. Na verdade me senti mais viva, mais jovem,
cheia de novos desafios, e com um mundo todo pela frente.
Quando eu
tinha 30 e poucos anos, me diziam que eu sentiria o peso dos 40. Os 40 chegaram
e passaram num piscar de olhos. Sinceramente, não senti peso algum, talvez
alguns quilos a mais, que não perco mais com a facilidade que perdia. Talvez a
raiz do meu cabelo, que grita por socorro em menos de um mês, quando os brancos
começam a parecer uma tiara. Mas, não justifica, até porque sempre cuidei da
cor do meu cabelo antes mesmo de aparecerem os fios brancos. Também nunca fui
de fazer dieta e restringir nenhum tipo de alimento porque engorda, então, normal
estar pagando o preço agora. Como também nunca consegui frequentar regularmente
uma academia para manter ou melhorar minha estética. Fazia e faço quando posso,
pelo simples fato de gostar de movimento, ação e aventura.
Sempre
gostei de esportes de ação. Não foi por modismo ou porque hoje em dia é bacana
praticar esportes que envolvam natureza, até porque acho que vivi bem antes
disso tudo, quando era estranho uma mulher querer fazer trilha, pilotar moto
cruzando estados, resolver tomar banho de chuva quando tudo ao seu redor parece
não ser apropriado. Sempre amei a natureza, sempre parei para ver um lindo pôr
do sol, ficar horas olhando um céu estrelado para ver estrelas cadentes, sentar
e escutar o barulho do mar, tomar um banho de cachoeira. Isso sempre foi a
minha praia. Então, nunca senti peso ou incomodo com minha idade, até porque
sigo fazendo tudo isso hoje.
Lembro-me de
uma situação que aconteceu há mais de 20 anos, eu tinha 20 e poucos anos.
Estava num consultório médico aguardando a consulta, e uma mulher entrou e foi
falar com a secretária. Como de costume numa primeira consulta, a secretária
fez algumas perguntas. Perguntou nome e sobrenome, ela respondeu. Perguntou
qual o endereço, ela respondeu. Perguntou qual telefone para contato, ela respondeu.
Quando ela perguntou qual a idade, ela disse 30, bem enfática! Todas as
mulheres que estavam esperando deram uma olhada de cima abaixo na tal mulher, e
logo em seguida cruzaram olhares duvidosos. Foram os 2 ou 3 segundos mais
longos que já vi na vida, até que ela deu continuidade a resposta: “e cinco”. E ainda concluiu: “sempre funciona!”. Todas caíram numa
grande gargalhada, inclusive eu. Fiquei me perguntando naquele momento, se um
dia faria o mesmo que ela, esconderia ou mentiria a minha idade. Estou chegando
aos 50 anos, dia 02 de fevereiro e, nunca escondi minha idade.
E agora que
estou completando 50, vou sentir que mudança, que peso?
Vou
confessar uma coisa para todos vocês, homens e mulheres que acompanham o que
escrevo aqui. Me sinto ótima como uma cinquentenária!
Sinceramente,
parece que estou abrindo um novo capítulo na minha vida. Estou mais serena,
mais tranquila, e passei a dar mais valor ao que antes não valorizava tanto. Eu
sempre amei o pôr do sol, mas talvez não demonstrasse o mesmo amor pela minha
mãe como faço hoje. Afinal, precisei viver o bastante para ver que ela era o
meu maior e mais bonito pôr do sol. Aprendi a amar mais as pessoas, não apenas
a natureza e seus encantos. Aprendi que ter paz de espírito não tem nada a ver
com o que você tenta mostrar aos outros, mas sim o que os outros veem em você,
sem que tenha necessidade de mostrar.
Mas isso eu
consegui chegando até aqui, vivendo tudo que vivi. Errando, acertando, amando,
me apaixonando, me desapegando, valorizando e agradecendo. E vou continuar
nesse mesmo círculo.
Esses tempos
recebi um elogio, me compararam a uma Ferrari. Mesmo indo contra tudo que
ensino nas minhas palestras, disse que até podia ser, mas só que uma Ferrari
velha! E então, para minha surpresa, escutei que uma Ferrari é sempre uma
Ferrari, independente do ano de fabricação. Diferente de ter um carro da moda
hoje, que amanhã já está fora de linha.
Sim, foi um
daqueles elogios que elevam e muito nossa autoestima. Mas percebi que só posso
ser um clássico, se cuidar da mecânica e da minha lataria. Me manter o mais
perto possível do original, funcionando e brilhando, mas sem fugir de quem sou.
Senão viro uma lata velha!
Então, sigo
acelerando e mostrando o ronco do meu motor pra vida! Afinal, eu sou uma
Ferrari ontem, hoje e sempre!
Beijo bom!